12 julho 2014

Quando te conheci...


Foi numa noite de verão que te conheci. Você usava um vestido de renda azul e estava radiante. Quando a vi meu coração deu um salto. Era noite de baile, aquele que sua família oferecia todos os anos no clube da cidade. Eu, obviamente não era um dos convidados. Naquela noite estava trabalhando como garçom, quebrava um galho para um amigo que estava com a equipe incompleta e aproveitava para fazer um extra e ajudar nas contas. Apesar de saber quem era a sua família, nunca antes tinha te visto. Vivíamos em mundos diferentes, seu pai era o homem mais importante e rico da nossa pequena cidade. E eu era um João ninguém, aspirante a advogado. Iria começar o ultimo período na faculdade em poucas semanas e aproveitara todo o tempo livre do verão para trabalhar como free lance e ajudar meus pais.  Soube pelos outros garçons que você estava se despedindo, iria fazer intercambio e ficaria um ano fora. Eu que, contrariando a razão, havia criado esperanças de te conhecer, me vi decepcionado com a falta de oportunidade. Mas talvez fosse melhor assim, nunca teria chances com a filha do Dr. Lima mesmo.


Sem conseguir me controlar, acompanhava todos os seus movimentos pelo salão. Linda e com um sorriso irresistível, você me ganhou no primeiro momento e eu, tolo, não percebi que estava perdido. Quase no fim da festa, aquele mauricinho que te namorava apareceu. Eu sabia quem ele era, pois o conhecia da faculdade. Notei quando ele se aproximou de você e tocou sua cintura, você se retraiu com o toque e eu quase derrubei a bandeja de bebidas que servia. Ele te levou para fora do salão e eu impotente tive que me colocar em meu lugar, afinal aquela era sua vida e eu não fazia parte dela. Procurei focar no serviço, mas você não saía da minha cabeça. Inventando uma desculpa, dei um jeito de antecipar minha pausa e sair para os jardins a sua procura. Avistei-os ao longe, próximo ao Lago de Cisnes e percebi a discussão. Ele estava alterado e lhe segurava pelos pulsos enquanto você lutava tentando se soltar. Nada poderia ter me impedido de ir até você quando vi a cena. Mandei que ele a soltasse e ele, indiferente, me mandou voltar para a cozinha, onde dizia ser o meu lugar. Ignorei o comentário e forcei-o a lhe soltar.  Em meu íntimo estava louco para socá-lo, mas me controlei. Eu não era de briga, mas não hesitaria em acabar com ele para te proteger. Você disse-lhe que estava tudo acabado e que não o queria lá, mas ele não aceitava o término do namoro. Prevendo uma reação agressiva, me posicionei a sua frente de forma protetora e o enfrentei, dizendo que ele fosse embora e te deixasse. Ele não iria querer se meter com um cara da periferia e não querendo pagar pra ver foi embora. Quando me virei te vi chorando, você me agradeceu e se virou para o lago me dando as costas. Toquei seu ombro incapaz de vê-la tão fragilizada tentando esconder as lágrimas. Em meus braços você desabou e naquele momento eu já não era mais um estranho. Você confiou em mim.
Por horas conversamos, o baile havia acabado e todos tinham ido embora. Eu sabia que teria que me explicar pelo meu sumiço, mas deixei para pensar nisso depois. Você estava ao meu lado me contando sobre sua infância, sua adolescência e a incerteza do futuro que lhe aguardava do outro lado do Atlântico. Eu lhe contei sobre a minha família e a minha ambição de ser bem sucedido e vencer na vida. Eu tinha poucas horas, em breve você iria pegar um avião e seguiria para uma nova vida. Uma vida que eu não me encaixava. Ofereci-me para te acompanhar até em casa e me admirei quando você tirou o salto alto e não se importou em caminhar. Fomos andando, em parte por que queríamos aproveitar o momento e prolongar as horas, e outra porque eu não tinha carro nem dinheiro pro táxi. Quando chegamos à sua casa, você me agradeceu mais uma vez e com seus olhos presos nos meus, disse que queria que essa noite tivesse acontecido antes de decidir viajar e que queria mais tempo. Eu me aproximei e sem pensar, sem planejar e sem me importar em como seria o amanhã, te beijei. Foi o primeiro beijo mais intenso e íntimo que tive na vida. E com promessas de mantermos contato, nos despedimos relutantemente.
Um ano se passou e muita coisa havia mudado. Eu trabalhei e estudei como um louco e quando me formei recebi uma ótima proposta para trabalhar na capital. Ainda tinha que conquistar muito mais, estudar mais e trabalhar mais, mas tinha certeza que estava no caminho. Meus pais já não precisavam se sacrificar tanto e eu finalmente tinha conquistado o meu espaço. Durante todo esse ano que ficamos separados não quebramos a promessa de manter contato e quando você me disse por skype o dia e a hora que seu avião chegaria, eu já havia me decidido. Ninguém sabia dos meus planos, e quem entenderia? Eu seria tachado de louco e com razão, afinal eu estava louco por você. Quando eu te conheci, tudo mudou. Meu mundo saiu dos eixos quando percebi que estava perdidamente apaixonado pela garota de vestido de renda azul que caminhara ao meu lado descalça naquela noite estrelada. Desde o início eu sabia que você era “a garota”. E agora estou de joelhos diante de ti pra não quebrar a tradição, pedindo que seja "a minha garota". Mas não é um pedido de casamento, por hora. Em poucos dias será a minha vez de partir, e peço apenas que venha comigo e vamos descobrir no que vai dar. Seus olhos me respondem antes que a palavra esperada saia de seus lábios. Em um instante estou de pé ao seu lado onde para sempre ficarei.




4 comentários:

  1. Que texto lindo!! *o*
    Amei demais, super romântico. Adoro histórias assim, "a dama e o vagabundo" - que não é vagabundo, na verdade kkk
    Lindo seu blog!
    Beijos...

    http://foradoroteiroblog.blogspot.com.br/

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    1. Fico feliz que tenha gostado! Eu adorei escrever.
      Obrigada pela visita!!!
      Bjs!

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  2. Amor platônico... só você mesmo Alinne, estou começando a gostar de romance *-*

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    1. HAHAHA.... Pra quem achava chato, to adorando a nova Carolinne.
      Bjs!

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