04 julho 2014

Estranho



A cidade amanheceu envolta em densa neblina. Esse friozinho ameaçava mudar meus planos de sair das cobertas e começar mais um dia. Relutante, evito pensar e começo a agir antes que seja tarde demais e a cama me ganhe de vez. Com uma preguiça fenomenal, começo a me arrumar e após vários minutos estou pronta para sair. Dou uma ultima conferida se peguei tudo: Rio card, chave, carteira, celular... tudo ok. Estou com sorte, ponto vazio e "busão" chegando no horário. Entro e escolho um lugar próximo a janela, ao lado de um carinha moreno e, não que eu estivesse reparando, muito gato. Pego meu celular e coloco meus fones de ouvido para me distrair. Sem perceber, caio no sono pra acordar um tempo depois com uma voz profunda me chamando, dedos tocando meu ombro suavemente e puxando os fios do meu fone.
Não acredito, foi a primeira coisa que pensei, perdi o ponto de novo e o trocador está me chamando. Mas ao abrir os olhos percebo que o rosto diante de meus olhos e próximo o bastante para que eu pudesse sentir seu cheiro, definitivamente, não é do trocador, muito menos do motorista. Ai minha nossa, dormi no ombro dele! É isso mesmo? Com a cara rachada de tanta vergonha, pego minhas coisas e me levanto. Ele começa a dizer alguma coisa, mas não espero e desço do ônibus as pressas. Que mancada, pelo menos hoje é sexta e fico mais tranquila quando penso que a probabilidade de reencontrar um estranho nessa cidade é muito remota.
Depois de um fim de semana lento, acordo cedo na segunda a fim de pegar o primeiro ônibus e nem passa pela minha cabeça o que aconteceu na ultima vez que sai pra trabalhar, até me deparar com dois olhos verdes que me encaravam de um assento próximo, ao lado do único lugar vago. O moreno lindo, e pelo visto educado, se levanta para que eu sente ao seu lado na janela, mas não diz nada e pega seu jornal pra ler. Finjo que nada aconteceu na semana passada e que esse reencontro não me abalou em nada, pego meus fones e entro no meu mundo onde é mais seguro.
Abro os olhos e me deparo com uma nova situação. Um casaco preto que nunca vi antes me cobre e um corpo quente está moldado ao meu. Estou tão confortável e quentinha que levo um tempo para entender o que aconteceu. Dormi de novo no ombro dele. Nunca fiquei tão sem graça.
- Bom dia! Dormiu bem? - diz enquanto me olha o tempo todo com seus olhos gentis.
- Sim. - respondo.
Ora, o que mais poderia dizer? Dormi bem sim, perfeitamente bem. Começo a pedir desculpas pelo meu abuso, mas ele me interrompe dizendo que não tem problema e me convida para tomar um café. Percebendo minha indecisão, ele dá sinal que vai descer e me oferece passagem. Aceito e quando chegamos a calçada ele diz:
- Tem um ótimo café nessa esquina. Seria ótimo conversar.
- Mas nem o conheço, você é um estranho pra mim. - digo.
- Eu não diria isso. Mas, tudo bem. Basta me dizer seu nome, todos são estranhos até o primeiro encontro.
Considero por um momento e tomo uma decisão.
- Ok, meu nome é Eva.
- Prazer Eva, sou o Lucas. E aí, vamos? - Ele convida me estendendo o braço.
Ah fala sério, me diz que você não aceitaria!













6 comentários:

  1. Ai que lindo! Adorei! Simples e bonito.
    Parabéns pelo conto.
    Beijos
    Tão doce e tão amarga.

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    1. :)
      Oi Thamiris!
      Obrigada pela visita e por deixar sua opinião aqui. Vou passar no seu blog pra conferir seus posts. Bj!

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  2. Eu amei o conto,ehehehehe,super leve *_______*


    beeijos :)
    http://carolhermanas.blogspot.com.br/

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    1. Carolina, que bom que gostou!
      O blog está cheio de contos e espero te ver mais por aqui.
      Bj!

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  3. Sinceramente eu não aceitaria #medo hahaha

    Adorei o conto Alinne!

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