09 julho 2014

Destino: Grécia # Parte 1



Finalmente estou aqui. Depois de 3 anos economizando toda a comissão que ganhei com as vendas, consegui juntar o suficiente para fazer esta viagem. Visitar a Grécia sempre foi um sonho que alimentei desde pequena. Compartilhava esse sonho com meu avô e juntos fazíamos planos. Mas nunca guardávamos o dinheiro.
Como aposentado ele não ganhava muito e eu comecei a trabalhar cedo para ajudar. Era apenas nós dois há muito tempo. Desde que meus pais decidiram que não me queriam e me deixaram com meus avós, os pais da minha mãe. Minha avó morreu quando eu tinha 10 anos. Os pais do meu pai moram no interior da Bahia e nunca os conheci, meu avô diz que eles não se davam bem com meu pai.
Tínhamos uma lojinha no centro comercial da nossa cidade, morávamos na região praiana do Rio, em Saquarema. Era uma lojinha para revelação de filmes fotográficos, mesmo aposentado ele trabalhava, e quando eu não estava na escola rendia ele no balcão. Como era um local turístico sempre tinha muito movimento, muitas vezes minhas amigas iam pra lá bater papo enquanto eu trabalhava, nos divertíamos com os turistas e fazíamos piadas com fotos perdidas. Mas quando a era digital chegou e se firmou, nossa pequena lojinha não resistiu.
Meu avô já estava cansado e sem pique para essa rotina. Então, assim que terminei a escola comecei a trabalhar no shopping em Itaúna e os dias ficaram cheios demais. Fiquei com pouco tempo para faculdade e raramente via minhas amigas. Quando fiz 20 anos meu avô ficou doente e, sempre preocupado, tomou suas providências para que eu não ficasse desamparada. Colocou o imóvel que morávamos e nossa lojinha em meu nome, alugou o ponto da lojinha e o valor era depositado em nossa conta poupança. De início fez tudo às escondidas para não me assustar, me contou uma semana antes de partir e me fez prometer que nunca desistiria dos meus sonhos e que perdoasse meus pais. Fiquei perdida e sofri muito, mas encontrei no sonho que compartilhávamos forças para superar sua perda e seguir em frente.
Foi o que fiz, trabalhei bastante e economizei muito. Passei a sair pouco, o que não era um grande sacrifício. Minhas amigas estavam na faculdade e só apareciam nos fins de semana. Corri a trás para conseguir o visto e após muita burocracia consegui. Aproveitei uma promoção na internet e comprei a passagem para a Grécia. Com férias marcadas e mala pronta, pela primeira vez na vida, ia sair da segurança da minha cidadezinha. Ia conhecer o mundo e viver meu sonho.
Andando por Atenas, lembro dele o tempo todo. Como ficaria feliz em conhecer o Partenon, a cultura grega que tanto o encantavamas que conhecia apenas pelos livros. Ele sempre acreditou em Deus, nunca teve dúvidas quanto a sua fé, mas tinha um fascínio curioso quando se tratava de mitologia grega.
Meu primeiro dia neste país e não consigo resistir as lembranças que chegam e deixam marcas em meus olhos. Vou visitar o mar, que sempre me acalma e me deixa segura. Vim com a cara e a coragem, sem guia, sem nada. Por enquanto, tenho conseguido me comunicar com meu inglês enferrujado, sem ter que me render à mímica.
Avisto um grupo de turistas próximo, um deles está usando a camisa da seleção argentina, estão tirando fotos e parecem muito divertidos simulando algumas poses.
O argentino olha algumas vezes em minha direção e disfarço minha curiosidade com o grupo olhando fixo para o horizonte. É difícil não notá-los, pois fazem muita algazarra e o argentino, nem se eu quisesse, poderia evitar um olhar. Sua beleza e sua desenvoltura com o grupo insistem em atrair meu olhar de forma irresistível.
No momento que sou flagrada espiando, me constranjo com minha falta de educação e resolvo seguir meu caminho e procuro um restaurante, estou morrendo de fome.
É início de tarde quando entro no restaurante e faço meu pedido. Enquanto saboreio a Moussaka, uma lasanha grega, penso com meus botões que a comida está divina e vovô teria adorado. O grupo de turistas que estava na praia entra no restaurante. O argentino se destaca facilmente e percebo que ele me viu, após um momento de aparente indecisão ele sorri e vem em minha direção, acho que tomou minha curiosidade como incentivo para uma investida. Abaixo a cabeça para o meu prato e num minuto ele está ao meu lado. 
Ele me pergunta em inglês se pode se sentar, disse que me viu na praia e queria saber se poderia me fazer companhia. Há 5 anos atrás, concluí meu cursinho de inglês e por todo esse tempo não tive o costume de praticar a língua. Desde que cheguei à Grécia meu conhecimento vinha sendo testado. Por enquanto ainda não passei vergonha e tenho me saído razoavelmente bem. Mas por essa abordagem eu não esperava. Hesito antes de responder e ele deve ter pensado que não entendi nada do que ele falou. Um pouco confuso, pergunta se consigo compreender o que diz e se sou grega.
- Não, sou uma turista brasileira. – respondo em inglês.
 Ele abre um sorriso e diz num português perfeito:
- Não acredito. Uma brasileira!
- Caramba, você fala como um brasileiro.
- Mas eu sou brasileiro. – ele ri.
Confusa pergunto:
- Então porque a camisa argentina?
Ele olha para blusa como se tivesse esquecido o que usava e diz:
- É que tenho dupla cidadania. Meu pai é argentino e minha mãe é brasileira. Nasci no Brasil, mas fui criado na Argentina.
- Nossa! Quem diria?! Eu não esperava encontrar alguém que falasse a minha língua justo na Grécia.
- Inesperado. Minha mãe é do Rio, mas hoje eles moram em Buenos Aires. De onde você é?
- Do Rio de Janeiro, Saquarema.
- Não conheço. Vou ao Rio constantemente com minha mãe visitar a família dela, pelo menos uma vez ao ano. Está de férias aqui?
- Sim, cheguei em Atenas ontem.
- E por quanto tempo pretende ficar? - ele perguntou, dessa vez sem sorrir.
- Mais 5 dias, depois volto pro Brasil.
- Que azar o meu ... vou embarcar amanhã de volta pra Argentina.
- Por que diz isso?
- Por que acabei de te conhecer e gostaria de ter mais tempo.
Fico sem palavras diante dessa afirmação. Mas não acho que deveria dizer que pensei o mesmo. Os amigos dele na outra mesa o chamam e ele se vira pra dizer algo em espanhol que não entendo bem. Aproveito a deixa para me afastar do terreno perigoso e peço a conta.
- Bem, tá na minha hora, eu preciso ir.
- Tão cedo?
- Não quero privar seus amigos da sua companhia.
- Te garanto que eles ficarão bem sem mim. O que acha de dar uma volta? Posso te indicar uns pontos turísticos legais pra você não se perder esta semana.
Indecisa e sem saber o que fazer olho pra porta em busca de uma saída e ele percebe.
- Olha, não quero te assustar, você é uma garota aparentemente só em um país estrangeiro e está certa em querer descartar o estranho intrometido. Te garanto que não sou um maluco e minha mãe me educou bem.
O garçom chega. Enquanto acerto a conta tomo uma decisão e com um sorriso pergunto tranquila.
- Então, brasileiro que mora na argentina. Você tem um nome?
Ele dá uma risada e responde:
- Tenho sim moça bonita, é Felipe.
- Ok Felipe, meu nome é Ana. O que tem pra ver na Grécia?










4 comentários:

  1. Adorei a história, comecei a ler pensando que falava sobre você. Aí depois que cai a ficha, rs.
    Adorei, Alinne.

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    1. Rsrsrs.... Que bom que gostou! :)
      Espero que volte, vai ter continuação.
      ;)

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  2. O que tem pra ver na Grécia Alinne? Curiosa...haha

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